quarta-feira

Ainda a violência na escola

O post "Sementes de violência", que podem encontrar um bocadinho mais abaixo, mereceu o comentário que a seguir reproduzo. Está aqui porque achei que merecia sair do escurinho dos comments. Obrigada à autora.


"A escola não pode ser o caixote de lixo da sociedade e o problema não se resolve sentando um professor em cima da tampa pª o lixo não saltar e incomodar quem está cá fora, paizinhos incluídos.O problema é que nos está a saltar a tampa a todos.

Como é que se chegou até aqui? Não é de agora, é de sempre: É DE CASA; agora agravado c/ diferenças culturais e c/ a falta de expectativas.Fui criada no medo e não no respeito e, em 1967/8, por cada "falta de castigo" no meus 1º e 2º ano (actual 5º e 6º)1967/68 levava uma valente tareia, mesmo assim esgotei o nº possível de faltas de castigo sem ser explusa. Fiz o liceu c/ média de 14, naquele tempo dispensava-se às orais c/ 14. Não era das piores.Adorava o meu liceu e os colegas, era a minha evasão, um espaço de normalidade. Tive bons e menos bons professores, tudo normal como na vida. Usava botas de borracha e tinha o dinheiro à conta pª a camionete e, na minha equipa de ping-pong e ringue estavam colegas que iam de mota ou de motorista pª as escola.Chorei quando acabou.

Olá Miss Patrício e Prof. Vidigal (Inglês)! Prof Virgínia Vaz (Português)! Prof Guerreiro (Matemática)! Viva Maxa Espexífica (Física-Química)! Olá Prof. Egípcia (História)! Miss Baleia (Geografia)!Obrigada a todos os que me aturaram e me ensinaram.Esqueci-me de um promenor: apanhavam-se faltas de castigo por falar na aula, por usar casaco por cima da bata (tinha que se tirar), ter as saias curtas (descosiam-nos as bainhas) ou ser apanhado a fumar no intervalo (ora fartem-se lá de rir).

Não é dizer "no meu tempo é que era bom" mas tenho consciência que era uma semente que só não germinou em violência por causa daquela escola onde fui mto feliz. "

Fui professora provisória na década de 80 e já fui ameaçada c/ cadeiras e furos nos pneus. Fui directora de turma e foi um choque quando, ao 3º postal enviado, um pai foi à escola só para me dizer que não enviasse mais postais.Tinha alunos que se alimentavam só de caldo de farinha e café (na então chamada cintura industrial de Lisboa).A escola era o início de um escombro ao lado da linha do comboio.Nessa altura eu (ou seríamos todos?) devia ter feito alguma coisa.O que fiz foi deixar de ser professora.Eu e todos nós temos culpa.