domingo

Só para chatear

Uma das coisas que sempre me enfureceu é a mania que os políticos têm políticos de visitar hospitais. Em tempo de campanha é pior, claro, mas mesmo fora desses períodos de caça ao voto, volta não volta, lá vem um que se lembra de convocar a comunicação social e rumar ao hospital.

Já integrei várias vezes esses tristes grupos e de todas as vezes, sem excepção, me insurgi contra a iniciativa. Ninguém tem o direito de entrar de rompante por um hospital com uma quantidade de gente, câmaras e microfones atrás, interrompendo o trabalho de médicos e enfermeiros e expondo aos olhares públicos quem tem todo o direito à privacidade.

Quem assim é surpreendido ou está doente ou acompanha alguém doente. Espera tratamento muitas vezes há horas. Já tem motivos de sobra para estar neura e, ainda por cima, leva com um político sorridente, a querer cumprimentar toda a gente, a tentar mostrar que se preocupa com o povo e só está ali para o bem do povo.

Cavaco Silva escolheu precisamente uma visita ao Hospital Dona Estefânia como destino da sua primeira saída como Presidente da República. Foi lá porque - segundo explicou - teve um familiar ali internado, e quis manifestar o seu agradecimento e o seu estímulo. Não podia ter enviado um bilhetinho?

Diga-se que Cavaco não foi ao hospital anunciar nada, comentar nada, fazer nada de útil para ninguém. Foi lá mostrar que está vivo. Num hospital ou num estádio de futebol o efeito era o mesmo, e se tivesse ido à bola pelo menos não estaria a incomodar pessoas fragilizadas.

Dizem-me que isto não é campanha, que o homem já está eleito. Pior ainda. Se não foi lá caçar votos então, foi mesmo só para chatear.

2 comentários:

MBA disse...

Pois... tens toda a razão, principalmente porque não disse nada:
- Acha bem a empresarialização dos hospitais?
- Acha bem a gestão privada de unidades de saúde públicas?
- As taxas moderadoras deviam aumentar?
Enfim, as perguntas são mais que muitas...

Mas o exemplo não é de hoje: bem me lembro do Durão ter feito o mesmo em Coimbra, na campanha de 2002. Foi muito interessante porque a Margarida Sousa Uva amuou (literalmente) e não o escondeu de ninguém. Aliás, até mandou vir com o marido, alto e bom som.

O José Arantes (a propósito, o que é feito dele?) agarrou nela e levou-a para o bar durante o resto da visita. Só a vimos horas mais tarde, já à hora de jantar.

susana disse...

Serviço Público para o MB: O José Arantes está RTP - Rádio e Televisão de Portugal.