sexta-feira

Da suina relatividade da agenda jornalística

Há dias o site da BCC tinha um discreto título sobre a doença de Alzheimer e um grande destaque sobre a febre suina, a primeira pandemia deste século (a maior da história recente terá sido a gripe espanhola de 1918, segundo a Wikipedia).

A gripe suina afecta 30 MIL (29. 669) pessoas em 74 países enquanto, mundialmente, nos 195 países do globo, a doença de Alzheimer afecta "apenas" 27 MILHÕES de "trapos velhos". Já para não falar da pandemia Sida que afecta 25% de toda a população africana e um total de 33,2 milhões de pessoas, com nome, amigos, familiares, pasado, presente... e (algum) futuro.

O grande destaque da gripe suina na BCC era apenas mais um follow up da tragédia. A pequena notícia do Alzheimer era sobre uma descoberta que traz esperança aos milhões de pessoas, entre doentes e familiares e amigos, que vivem no permanente drama do esquecimento. Só em Portugal são 70 mil, mais do dobro de todos os infelizes que padecem da gripe suína.

Por todos estes milhões, e muitos mais*, chateia-me verdadeiramente a agenda jornalística. Entra-se em histeria para uns assuntos e há completa omissão dos mais relevantes. Enjoa-me folhear um jornal ou uma revista e ver todas as colunas de opinião versarem sobre a mesma "ordem do dia" - e a versarem basicamente os mesmos versos -, como se nada mais, para além de um qualquer bate-boca parlamentar, afectasse a vida dos seres humanos.

A agenda do jornalismo é realmente estranha. Tão estranha quanto a força analfabeta das massas, capaz de, nessa vertigem gregária, estupidificar o mais sobredotado dos génios. Ainda estou para entender (entender mesmo à séria) a razão desse fenómeno que Freud também tentou explicar.


* Morrem por ano nas estradas 1,2 milhões de pessoas. E 50 milhões ficam feridas, segundo as estatísticas rodoviárias mundiais. Entre as cerca de 2,5 mil milhões de mulheres do mundo, uma em cada três sofrem de violência doméstica...

2 comentários:

luisa disse...

totalmente de acordo :-)
e as referências citadas ajudam a perceber o ponto de vista.

Marisa disse...

olha que ainda perdi um bocado a pesquisar, qual artigo à séria :))