terça-feira

Bússola precisa-se

Ouço, na manhã da rádio, Pedro Adão e Silva, um homem identificado com a chamada ala esquerda do PS e um dos autores da moção de José Sócrates, propôr o fim de algumas pensões. Adão e Silva defende que quem recebe pequenas pensões, não pertence ao regime contributivo e tem outros rendimentos deve deixar de receber.
Não vou discutir o mérito ou demérito da proposta mas duas ou três perplexidades que ela me suscita. O PS está no governo, com maioria absoluta. Se acha que isto é importante... O PS vai a eleições, dentro de menos de um ano.... O PS está ameaçado sobretudo à esquerda, quando é a ala esquerda a falar no fim de pensões....
Se juntarmos este contributo à moção propriamente dita, onde Sócrates promete tudo o que ainda há poucos meses, há poucas semanas, se recusava a fazer, como seja a redução de impostos ou a legalização dos casamentos homossexuais... temos como resultado um PS bastante desnorteado. A ver vamos, até onde levam esse desnorte.

5 comentários:

Anónimo disse...

cara dina,
li o seu post e julgo que o que eu disse não foi bem interpretado (se bem que não tenha ouvido o som das rádios). na verdade, há um conjunto de pensionistas com pensões baixas e pagas pelo orçamento de estado (ou seja, que não resultam do esforço contributivo de cada um, mas sim da solidariedade colectiva) mas que têm rendimentos (alguns deles elevados). o meu ponto é que tenho dúvidas que essas pessoas tenham direito a receber pensões sem terem de provar a necessidade. deve o conjutno da sociedade - através de um esforço colectivo, pois é disso que se trata quando falamos do OGE - redistribuir a favor de um conjunto de cidadãos apenas porque são idosos? a questão não é teórica ou académica, tem consequências sérias. estima-se que cerca de um 1/3 dos pensionistas de pensões baixas não seja de facto pobre. isto quer dizer que estamos a dirigir recursos muito significativos para um conjunto de pessoas que não são as mais necessitadas, ao mesmo tempo que continuamos a ter sérias dificuldades para enfrentar o mais sério problema da sociedade portuguesa: um padrão de desigualdades que não encontra paralelo na europa. parece-me que redistribuir melhor implica que se redistribua de facto. é essa a minha preocupação e não estou com isto a querer retirar pensões a ninguém e muito menos aos que não sendo dos mais pobres, ainda assim têm rendimentos baixos.
parece-me que esta é uma preocupação bastante de esquerda. ou pelo menos como eu vejo a esquerda. naturalmente que não sendo eu dirigente do ps, o que digo vincula-me apenas a mim. aliás, não conto abdicar desta irresponsabilidade.
abraço
pedro
ps
se tiver paciência, há uns tempos escrevi um artigo no DE onde desenvolvia um pouco esta ideia (tornando-a tb mais clara). aqui vai o link
http://pedroadaoesilva.blogspot.com/2005/05/novos-mnimos-sociais.html

odete pinto disse...

Concordo com o ponto de vista defendido por Pedro Adão e Silva.
Queria até agradecer-lhe por ter tido a coragem "politicamente incorrecta" para a esquerda até agora, de publicamente chamar a atenção para o 'sufoco' da classe média baixa, no programa Prós & Contras.

E a questão das baixas pensões tem sido tão politicamente incorrecto que nunca vi nenhum jornalista ou repórter televisivo perguntar aos queixosos se tinham descontado para a reforma, quantos anos, etc.

Quem não se lembra de, após o 25 de Abril, muitos terem inscrito as mães como empregadas domésticas para terem direito a pensão?

Sei que são questões distintas e que cada pessoa deve ter o mínimo para viver; mas pobres, hoje, são os que trabalham, recebem o salário mínimo (ou mesmo 600/800€ muitos deles a recibo verde), fazem descontos sobre o mísero salário, pagam transportes e tudo o mais.

Todos os esquemas, abusos e similares devem ser abolidos - do topo à base.

Soube há dias de casos de ciganos, com casa em bairro social e não pagam renda, recebem Rendimentos Social de Inserção, têm grandes carros para a "venda" e até empregada doméstica!

Por outro lado, apoio uma família cigana que há anos tenta que o IRHU lhe arrende habitação social e não consegue.

Espero que o SIMPLEX autárquico ajude a combater estas falsas declarações. Aslicenças para venda nas feiras, concedidas pelas autarquias, deveriam ser comunicadas à Segurança Social para que, nesses casos, o RSI deixasse de ser pago.

Mas estas são assuntos tabú para certa 'esquerda' e, afinal, todos pagamos para tudo isto!

luisa disse...

Lamento, mas as dúvidas da Dina têm toda a pertinência: o PS vai tr de fazer alguma ginástica retórica para explicar porque é que certos temas que eram inoportunos há dois meses passaram a sê-lo agora, num passe de mágica eleitoralista. A questão das pensões pode ser tabu para alguns, mas parece-me antes de elementar bom-senso e justiça social - eporque não começar com o exemplo de cima? Ordenados escandalosamente chorudos de alguns gestores públicos. E por aí fora...

Já agora, saberá o governo quantos jovens e menos jovens, formados e bons profissionais, trabalham dez e mais horas por dia, em ocupações qualificadas, a troco de 400 e 500 euros? Repito: 400 e 500 euros.
O salário mínimo, demasiado baixo, é o referencial para muitos empregadores. Eu gostava de ver um dos próximos novos deputados a ser pago, no parlamento, com ordenado da mesma grandeza. Isso, sim, seria fracturante.

dina disse...

Bom dia Pedro,
O som das rádios não traía a sua ideia. Eu não tinha os dados sobre os cálculos relativos à quantidade de pessoas que recebem pensões do Estado sem delas necesitarem mas percebi qual era a sua proposta. Há-de reparar que eu não me pronuncio sobre ela. Aliás, à partida, e sem mais dados, parece-me fazer muito sentido.
Os meus reparos são mais de ordem política. Penso que um partido que está no governo com maioria absoluta não pode ter o meu discurso eleitoral (e é nesse ponto que estamos, em ensaios para as eleições) que um partido da oposição. Claro que não se pode fazer tudo de uma só vez, eu percebo isso. Mas se a injustiça é tão flagrante parece-me que já devia ter sido corrigida, sobretudo quando tantas pessoas perderam direitos, aparentemente, bem mais "inofensivos". Vejo ainda outro risco: o das promessas (daí juntar os outros exemplos) que ainda há muito pouco tempo eram classificadas como ideias inadequadas e fora de tempo. Dá uma imagem de desnorte pouco recomendável.
Gosto em lê-lo,
Dina

odete pinto disse...

Luisa:
Concordo em absoluto com a sua opinião:
"...e porque não começar com o exemplo de cima? Ordenados escandalosamente chorudos de alguns gestores públicos. E por aí fora...

Já agora, saberá o governo quantos jovens e menos jovens, formados e bons profissionais, trabalham dez e mais horas por dia, em ocupações qualificadas, a troco de 400 e 500 euros? Repito: 400 e 500 euros.
O salário mínimo, demasiado baixo, é o referencial para muitos empregadores."

Foi o que pretendi transmitir:
"Todos os esquemas, abusos e similares devem ser abolidos - do topo à base."