sexta-feira

Adoro este homem!

“As leis de mercado podem ser comparadas a um pequeno cachorrinho acabado de nascer, chamemos-lhe Bobby. Fofinho. Reparem, tem os olhinhos quase fechados. Todos queremos que o Bobby corra livre pelos campos, livre, absolutamente livre. Só assim será forte. Se quiserem, pôr-lhe uma coleira, somos contra, claro. Quem seria cruel ao ponto de pôr uma coleira num cachorro tão querido? Mas há imprevistos. Neste momento, o Bobby está doente, a crise. Agora, é preciso protegê-lo a todo o custo. É tempo de sacrifícios. Se precisarmos de abdicar do nosso calor para que o Bobby não sinta frio, iremos fazê-lo. Temos bom coração. Não é de ouro, mas é dourado. O Bobby não pode morrer, as leis de mercado são imortais. O que fariamos sem elas? Por esse andar, deixaríamos de usar gravata. Como seguraríamos o colarinho? Só quem já foi criança e sabe o que é perder um cachorinho pode avaliar esta situação de forma isenta. Podíamos até, quem sabe, arranjar um novo cachorro, podíamos até, talvez, chamar-lhe Bobby, mas não seria, de certeza, a mesma coisa”.

José Luís Peixoto,
Crónica 15 Janeiro, Visão

Ana

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