quinta-feira

Yunus

Nos anos 70 o Bangladesh atravessava um período negro. A epidemia de fome entre a população deu mesmo origem a concertos e canções de solidariedade internacional. Nessa altura, um professor universitário resolveu sair para fora do seu campus e fazer qualquer coisa. Encontrou mulheres que sobreviviam com a produção que vendiam sob encomenda ao preço que os fornecedores de matéria-prima lhes impunham. Propos-lhes emprestar-lhes os centimos de que precisavam para serem elas mesmas a adquirir a matéria-prima, para que pudessem vender depois ao "preço de mercado". Com trinta dólares permitiu a 'autodeterminação' de quatro dezenas de mulheres, começando com uma, que trouxe outra, e depois outra... Começou assim o processo em que assenta o microcrédito, "negócio" do Grameen Bank (GB) - banco da aldeia -. O homem é Muhammad Yunus, o mais recente premiado com o Nobel da Paz. Em Lisboa, explicou a sua história de "banqueiro dos pobres" e como é crucial a noção de confiança. É isso que faz a diferença entre acreditar (que somos capazes), ou descrer no ser humano. No Grameen Bank faz-se tudo ao contrário do que se faz na banca tradicional: nesta, empresta-se a quem já tem para que consuma mais; no GB empresta-se a quem nada tem para que consiga produzir algo. Numa estimula-se o consumo; no GB estimula-se a poupança.
O microcrédito não resolve o problema da pobreza, diz ele. Mas é mais um exemplo de como a lógica do capitalismo puro e duro pode, deve e tem de ser invertida, gradualmente, pessoa a pessoa, digo eu.

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