Deram-me a notícia e não acreditei : morreu o Alfacinha. Impossível, interiorizei. Os personagens nunca morrem.
Ao João Alfacinha da Silva eu costuma chamar 'mestre'. Ele, o jornalista que tinha medo dos microfones e de conduzir. E escrevia como ninguém: para a rádio (onde o conheci) e na ficção. Era, de facto, um iconocolasta, um céptico - como ele me costuma dizer. Brincava com as palavras e as histórias de uma maneira saudavelmente louca. E morreu de AVC, aos 58 anos, segundo a notícia.
Ensinou-me algo vital neste mundo: a modéstia profissional, o não nos levarmos muito a sério. Agradeço-lhe cada texto que me recomendou que refizesse, cada livro que me emprestou - Bukowski, etc. . Agradeço-lhe cada hora de conversa no café da esquina onde a edição das sete era 'preparada'. Agradeço-lhe cada reportagem que me sugeriu.
O Alface era um alentejano pequeno, tímido, piegas envergonhado, com um enorme talento para os livros - que lia, escrevia e partilhava.
Um gajo como ele nunca morre - só é traído pelo coração. Eu ainda não acredito. Deve ser mais uma partida dele.
2 comentários:
Lembrei-me de ti quando soube da noticia. E dos corredores da Comercial. E de "Um pai porreiro ganha muito dinheiro" que me ofereceste - há quantos anos ?!.
Gostava de esclarecer que o Alface tinha 57 anos.
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