domingo

"O accionista": dúbio Deus Capitalista

Os gestores deviam medir melhor quem devem realmente agradar, em vez de cegarem ao primeiro aceno bolsista.
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Há dias Belmiro de Azevedo acusava a PT de impedir que milhares de pessoas realizassem bons negócios, ao querer inviabilizar a Opa da sua Sonaecom. Ironicamente, estas palavras soaram-me como se fossem ditas por um qualquer líder altruísta que zela pela comunidade.

De facto as empresas tornaram-se num bem comum a milhões de pessoas com objectivos comuns: fazer dinheiro. Os patrões tornaram-se entidades abstractas diluídas entre accionistas e fundos de investimento que agem movidos por esse interesse colectivo. De olhos no curto prazo, vão deixando para trás um lastro de desemprego e precaridade.

Sem que haja um rosto a quem se possa apontar o dedo e dizer "foi ele!", fala-se de "O Accionista" como uma espécie de Deus Capitalista a quem todos atribuêm a razão de ser de tudo e a quem obdecem cegamente, sem nunca ninguém O ver.

Não me digam que não é possível isto ser tudo um bocadinho melhor! E não me chamem naif, nem comunista que eu, liberal assalariada, sei que neste mundo em que metade da riqueza é detida apenas por 2% da população, não é utópico querer que Ele (o dinheiro) se reparta melhor.

Há gente (pouca, mas há) que trabalha muito e bem, e que merece ser muitíssimo melhor remunerada. Não são accionistas, mas são seguramente a maior fonte de capital da empresa. Recebem cada vez menos dividendos, até que um dia as suas vitais mais-valias (como a criatividade, empreendorismo e espírito de sacrifício) se tornarão recursos não-renováveis.

Os gestores deviam medir melhor quem devem realmente agradar, em vez de cegarem ao primeiro aceno bolsista.

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