terça-feira

Violência doméstica (cont.)



Ele já tinha saído mas deixou a casa arrumada e a roupa passada. Para reconquistá-la. Ela, com uma filha de 4 anos e um bebé de colo, não se iludiu e fez o que queria fazer nesse regresso a casa, escoltada pela PSP: a mala.

No centro de acolhimento, às portas de Lisboa, aguardava-a uma carrinha que a levaria para destino desconhecido. Longe dele.

Foi esta manhã. E a jornalista estava lá. "Faláste com ela ?", perguntaram na redacção. "Claro que não..." respondeu. A jornalista quer falar com uma vítima de violência doméstica, mas uma que esteja disponível para, e não uma que acaba de sair de casa, com dois filhos, com a cabeça a estoirar e um futuro incerto, ajudada por uma ONG que tenta reerguer mulheres que, para terem sossego, têm de abandonar a sua vida (emprego, casa) enquanto o agressor mantém a sua (casa, emprego).

Quem lida com o fenómeno acha que o problema não está na lei mas na sua aplicação. E essa entronca também numa das causas da violência doméstica: a mentalidade lusitana. Ele é o macho que manda e pode fazer o que quer dela. Se ela se porta mal, é castigada. Um tabefe, um murro, uma conta bancária com o dinheiro dela gerida por ele, há muitas formas de a pisar. Às vezes há um descuido (ou não) e ela morre. Não é por amor que ele mata. É por paixão por si próprio. E desrespeito pelo outro. No fundo, a base de toda a cidadania. O Verão vai-nos dando provas de que a mudança das mentalidades é lenta e urgente em Portugal.

4 comentários:

escola de lavores disse...

"a mudança das mentalidades é lenta e urgente em Portugal" - é mesmo muito urgente e tem de ser acelerada.
E a jornalista portou-se muito bem.

escola de lavores disse...

Bem, espectacular a atitude dessa jornalista

Carrie disse...

O que tem que mudar é a mesma mentalidade que diz que as mulheres são o sexo fraco. A mesma que se esquece que a violência domèstica também tem homens como vitímas, ainda que em menor número.

Como se explica a uma mulher que nunca conheceu outra realidade que pode sair? Como se explica a um homem que o poder que tem é apenas uma ilusão?

Eva Shanti disse...

Para mim o problema passa pela coragem que a vítima tem de ter ao enfrentar o problema, de dizer basta e de seguir com a sua vida.

Já vi mulheres mal tratadas arrenpenderem-se, arrepiar caminho e voltar para casa para junto do agressor, mesmo depois de terem estado em casas-abrigo. Também já vi quem tomasse a sua decisão e, com muita determinação, não olhasse para trás.

Cada caso é um caso. Mas o que mais me deixa abismada é que este é um problema a nível mundial, por muito que se tenha a tentação de bater na mentalidade tipo macho latino.

Para mim, a violência contra mulheres é o reflexo de uma emancipação não concluída, senão mesmo mal feita.

Deixo uma sugestão: www.vday.org

Bjs