terça-feira

1958



Impressão minha ou nos 100 anos do nascimento de Humberto Delgado foi o seu papel na aviação que foi destacado?

Não é um bocadinho como a Evolução do 25 de Abril de Nuno Morais Sarmento ?

1 comentário:

rps disse...

Não. Por uma razão: o verdadeiro mérito da vida de Delgado é esse. Foi um excelente militar (o mais jobem general das FA's portugueses, pelo menos até esse tempo) e um grande conhecedor do ramo da Força Aérea ou Aeronáutica como se dizia à época.

Afrontar Salazar foi também uma acção indiscutivelmente meritória, mas motivada pelos mais mesquinhos interesses pessoais e motivações do próprio ego da personagem, que era incomensurável.

Como alguém disse, "ao contrário de Salazar, Delgado era fascista".
No anos 30, fez e leu textos apologéticos do Regime e do próprio Salazar.
Se a ideologia fascista, bebida de Mussolini, influenciou claramente Salazar em muitos aspectos, verdadeiramente fascinou Delgado, vaidoso a ponto da tonteria.
O tolo gostaria de ver-se no papel de Duce, aclamado por multidões. No fundo, nada que Spínola, anos mais tarde, verdadeiramente desdenhasse...

A versão oficial, "vende" que após uma missão nos Estados Unidos, o General ficou fascinado com a Democracia.
Pode ter trazido algum fascínio, mas o que o fez entrar verdadeiramente em ruptura com Salazar foi o facto de não ter sido nomeado para um cargo que pretendia (não sei exactamente qual, mas relacionado, precisamente, com a Aeronáutica ou Força Aérea). Tivesse ele o cargo...

A motivação para afrontar o ditador Salazar veio unicamente daí. Fê-lo com coragem, é certo, mas sem frieza nem com uma estratégia que fizesse com que alguém o levasse verdadeiramente a sério.
Nem os seus apoiantes o levaram a sério. Passadas as eleições, todas as correntes da Oposição o abandonaram. Ficou só e a loucura acentuou-se-lhe.

Há um ponto a partir do qual um homem deixa de ser corajoso para passar a ser louco. Foi a loucura e o desespero que o levaram à cilada da PIDE. Confiou em contactos que nem ele nem ninguém conhecia.
Emídio Guerreiro - um anti-fascista sério e digno de admiração e dos poucos amigos verdadeiros de Delgado - desaconselhou-o quanto ao pode air a Badajoz.

Nada disto é referido na s cartilhas do actual regime.
Particularmente irritante nos biógrafos e apaniguados do General: com pudor pateta, referem-se à sua amante como "Arajaryr, a brasileira, dedicada secretária pessoal do General Sem Medo".
Querem-no tão exemplar que entram no pior dos falsos moralismos.