quarta-feira

Shalom

"Aconteceu há muito tempo.
Desconfio até que tenho origens judias.
Afinal, ninguém é puro – nem mesmo depois da Inquisição.

Foi talvez há vinte anos.
Andava encantada com aquelas matérias de Geografia Humana, que falavam dos Kibbutz e dos jovens que de todo o mundo estavam a erguer o Estado de Israel.
Estava fascinada com essa forma de vida comunitária, solidária.

O país vizinho do meu tinha uns problemas de terrorismo.
Havia os GRAPO, a ETA, sei lá que mais.
Um império potente, era o que morava ao lado.
Subitamente, uma noite - e depois em muitos dias seguidos - voaram bombas que arrasaram a minha rua, o meu bairro, a minha vida.
Sim, simpatizava com os revolucionários dos tais grupos, nem nego que me tenha cruzado com eles numa esplanada do meu país à beira mal plantado.
Mas este era o meu bairro, a minha rua, a minha cidade.
Eles, os vizinhos, bombardearam indiscriminadamente. Perseguiam terroristas, disseram. Tinham de os eliminar. Soterraram tudo. Mataram sem critério, se é que há critério que justifique a morte.

Sobrevivi para contar.
Suspeito que a história se repete."

Sem comentários: